Os minicontos de João Matias são cápsulas de prosa recheadas de lirismo e
de um cuidado intenso com a linguagem. Os seus relatos operam como metonímias
de histórias maiores, que sempre se fecham em sugestões infindáveis e que nos
instiga a pensar: “o que vai acontecer depois disso que o autor me contou?”.
Aqui, o ponto final é uma mera formalidade, pois os minicontos permanecem,
insistem em existir e ecoar na mente do leitor.
“O Lugar dos Dissidentes” é o mínimo enquanto potência máxima, é Trevisan
e Carver com seus olhares afiados para o comum, os detalhes que insistimos em
não ver, mas que estão lá, aprisionados no tédio da vida, na banalidade do
cotidiano, no olhar cansado de um dia cheio. João, assim como esses dois
autores, carrega consigo essa visão de maresia, que atordoa e encanta ao mesmo
tempo.
Penso que o finado Robert Altman adoraria ler este livro e adaptar para o
cinema um ou outro desses brevíssimos relatos – teasers que nunca serão
transformados em longa-metragens – tão cheios de humanidade, comédia, tragédia
e alucinações. Pois, este lugar que o autor criou para nós, leitores, é
basicamente um recorte do que somos. Entre os casamentos falidos, amores
perdidos, desastres, reflexões literárias, amores e memórias, e outros planos
detalhes da vida narrados aqui, nos deparamos com o impacto da simplicidade
que, paradoxalmente, acaba sendo a forma mais complexa de se fazer boa
literatura.
Bruno
Ribeiro
O lugar dos dissidentes, de João Matias
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